3.8.13


As palavras que você deveria ter dito

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Era um domingo à noite qualquer, entendiante como todos os outros. Até que ele apareceu para salvá-la. Assim do nada, como o príncipe que não era. Buzinou em frente a porta da casa dela. Na verdade, ela não queria mais falar com ele. Isso traz problemas e eu quero paz, pensava. Mas era dessas que tem o defeito de não conseguir ficar com raiva de ninguém. Muito menos dele, muito menos quando ele lhe dizia aquelas bobagens ao pé do ouvido.

Então, com a desculpa de estar cansada demais para sair de casa a pé, entrou no carro dele. Tinha esquecido como era bom quando estavam juntos, mesmo que só como amigos. Como ele fazia as coisas parecerem mais fáceis. Ele colocou uma música no rádio do carro. Primeiro ela começou a cantar. Depois pensou que talvez aquela música linda que ela adorava, fosse uma indireta. Não era.

Os dois conversaram sobre todos os assuntos banais que podiam. O medo de que o silêncio pudesse trazer à tona as lembranças do passado e as questões não resolvidas entre eles, era maior do que qualquer coisa. Talvez dessa vez seja diferente. Talvez ele tenha mudado, ela pensou. Não tinha. Eles eram os mesmos de anos atrás, e nada pode ser consertado quando tudo fica como está. Ela logo se lembrou disso, ufa. Se lembrou de tudo que já tinha sofrido por aquele cara e que tinha decidido dar um basta em tudo. Se lembrou de como foi difícil e doloroso tomar a decisão de ficar longe dele. Difícil demais pra ele querer chegar de mansinho assim e estragar meses de tranquilidade e amor-próprio.

Na volta, ele disse: "Bom...chegamos. Você ainda mora aqui né?" Ela deu uma risada amarga, dessas que até doem de tanto que custam a sair em meio ao nó na garganta, e respondeu: "Claro." Ele apertou o volante. E ficou esperando. Esperando que ela se inclinasse e o beijasse, exatamente como fez da última vez que a levou em casa. Ela tirou a chave do bolso, abriu a porta do carro, e esperou. Talvez ele a puxasse pelo braço e dissesse tudo o que ela precisava ouvir. Não disse. Ela ia embora. Sabe-se lá quando eles iam se ver de novo e ela ia embora. E ele a estava deixando ir embora. "Faça alguma coisa, seu idiota.", foi o que ele pensou. Ela também pensou a mesma coisa, com o coração muito mais apertado que o dele.

"Então, tchau." E saiu do carro. Olhando pela janela, ainda agradeceu pela carona e deu mais um sorriso amargo, tentando fingir que estava tudo bem e que eles eram apenas bons amigos. Ele continuou olhando para frente, não queria encará-la. Não queria lembrar como era aquele sorriso, tão cheio de melancolia, que ela sempre tinha quando se despediam. "Tchau." E pisou no acelerador, deixando-a pensando que ele era o babaca que parecia ser.

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